O estranho e o fascinante na obra de Gérard Gachet


Escolhi essa obra, criada por Gérard Gachet e publicada em seu livro Desseins (1988), porque ela me pareceu extremamente intrigante. Há tanta informação que é difícil compreender tudo de imediato. À primeira vista, identifiquei algo semelhante a uma cobra na cabeça, mas, conforme fui observando, outras imagens começaram a surgir. As formas me lembraram figuras sacras, como as que encontramos nos tetos das catedrais. No lado esquerdo, próximo ao abdômen, percebi um rosto que me remeteu a Buda, trazendo uma sensação de paz e serenidade. Ao mesmo tempo, achei essa figura deslocada e até bizarra no meio de tanto caos. Já no centro, enxerguei algo que parecia um anjo, mas fiquei em dúvida se era realmente isso ou apenas uma interpretação minha. 

O que mais chamou minha atenção foi a textura da obra. A plumagem lembra tanto uma casca de pinheiro quanto um coral marinho, misturando leveza com rigidez. Observei uma forma abaixo do abdômen que parecia uma folhagem, mas que também poderia remeter a uma parte íntima feminina e masculina, como uma glande ou um clitóris. No canto inferior direito, as formas se assemelham a uma cidade ou porto, com containers e blocos de condomínio. Essa mistura de elementos cria uma sobrecarga visual, intensificada pelos contrastes entre luz e sombra, que fazem as informações chegarem todas de uma vez, dificultando a compreensão plena. 

 A obra é impactante e, de certa forma, perturbadora. Sua abundância de informações e formas caóticas confunde e exige tempo para ser digerida. Apesar disso, esse caos é também o que a torna fascinante, já que cada detalhe parece se conectar quando se olha de longe. É como se as formas, remetendo ao feminino, ao orgânico ou ao urbano, se unissem em algo maior, como uma árvore ou um cogumelo. No fim, é uma experiência visual que provoca reflexão, confunde o olhar e instiga a observar novamente, sempre em busca de algo que pode ter passado despercebido.


Philip Luiz de Paula Melo 

Comentários