As musas, de Carlos Oswald


 

Carlos Oswald (1882- 1971), nascido em Florença, na Itália, de pais brasileiros, se torna o primeiro expoente de gravura no país e um de nossos grandes pintores sacros. Inaugurou a oficina de gravura no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, onde organizou em 1919 uma exposição de gravuras em água-forte, a primeira do gênero no país. Carlos Oswald foi aclamado em vida e reconhecido pela crítica, sendo responsável, entre outras coisas, pelo desenho da estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, recebendo prêmios nacionais e internacionais. Formou seu filho Henrique Oswald e com ele foi professor de diversos gravadores de renome, como Poty Lazzarotto, Darel Valença Lins, Renina Katz e Fayga Ostrower.

Na gravura As musas, vê-se um grupo de árvores sob o qual há seis figuras femininas arranjadas em conjuntos. A organização das copas das árvores, ritmicamente justapostas, sugerem elipse que ocupa três quartos superiores da composição. É essa elipse que sugere a bidimensionalidade da justaposição das copas, a qual é quebrada devido à disposição dos troncos das árvores que as sustentam. Grandes ciprestes estão na frente da composição, aquele à esquerda do observador é colocado no um terço da largura da mancha, o do meio localiza-se quase na metade da mancha, e o da direita está pouco depois da linha dos dois terços. Entre estas árvores, estão os grupos femininos: um trio que dança à esquerda e uma dupla que parece tocar um instrumento à direita. Note-se que a conífera do centro está tanto do lado da mulher que dança quanto do lado de uma das mulheres sentadas, esta parece recostar as costas na árvore. A posição desse tronco central na obra é de importância, pois estabelece um “jogo” entre a ilusão de profundidade e a planificação da imagem. Ao mesmo tempo que a posição dessa conífera indica que as mulheres dançam ao lado dela, fazendo-o no terreno que se estende para o fundo, ela também indica que os dois grupos de mulheres que a cercam estão em um mesmo plano. Esta percepção, contudo, não é reafirmada pela posição desses grupos no terreno, visto que eles não estão alinhados, mas, sim, colocados um pouco acima do outro, sugerindo que as dançarinas estão à frente das musicistas. Logo, a profundidade, tal como nas copas das árvores em relação aos seus troncos, é continuamente sugerida para ser, em seguida, desfeita.

Janaina Caldeira Pereira Godoy

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