No universo da arte brasileira, poucos materiais são tão evocativos quanto a madeira, utilizada tanto por Alberto da Veiga Guignard quanto por Myrthes Figueiredo como suporte para suas obras. Guignard, uma figura central do modernismo brasileiro, é frequentemente lembrado por suas paisagens etéreas de Minas Gerais, mas sua arte transcende as telas tradicionais, abrangendo uma variedade de objetos como violões, oratórios e cabeceiras de cama, entre outros. Essa fusão de arte e design enriquece a funcionalidade dos objetos com uma nova dimensão estética.
O oratório na imagem abaixo exemplifica perfeitamente essa abordagem. Guignard aplica sua sensibilidade modernista a um objeto profundamente enraizado na tradição religiosa e cultural, infundindo-o com um vibrante esquema floral que realça sua sacralidade com um toque pessoal e artístico. As flores pintadas não são meros adornos; elas simbolizam a renovação, a fé e a beleza, transformando um simples móvel em uma obra de arte que dialoga com o divino.
Myrthes Figueiredo, por sua vez, aborda a madeira com um olhar que ressoa profundamente com as técnicas de Guignard, mas com uma vitalidade que é inequivocamente sua. Em suas mãos, a madeira se torna o palco para uma das obras da série "Exotismo Floral", com título "Resplandecentes", realizada no interior de Minas Gerais em 2023, onde a intensidade e a saturação das cores contrastam com a abordagem mais sutil de Guignard. A artista explora o maximalismo floral em uma tampa de armário de cozinha, onde cada centímetro da superfície é uma celebração exuberante da flora. Diferente do oratório de Guignard, as obras de Figueiredo são densas com detalhes, cada pétala e folha pintadas com uma paleta vibrante que captura a essência explosiva da vida natural. Myrthes é considerada “neta” de Guignard, pois foi aluna dos alunos “filhos” de Guignard. Assim se formou uma linhagem de artistas com maestria e habilidade únicas.
A exposição "Miragem Botânica", na Galeria de Arte do Minas Tênis Clube, celebra essa continuidade e renovação do legado de Guignard nas obras de Myrthes Figueiredo, no ano que a Escola Guignard completa seus 80 anos de história. Localizada na Galeria de Arte do Minas II, Av. dos Bandeirantes, 2323 - Mangabeiras, Belo Horizonte - MG, a mostra estará aberta ao público a partir de 5 de novembro até 28 de dezembro de 2024.
Celina F. Lage
Oratório do século XVIII pintado por Guignard. Fonte da imagem: https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2024/08/31/oratorio-do-seculo-xviii-com-pinturas-de-guignard-e-exposto-ao-publico-pela-primeira-vez.ghtml
Bio
Myrthes Figueiredo, artista plástica nascida em Belo Horizonte, formou-se na famosa Escola Guignard em 1972, pertencendo à segunda geração de alunos do mestre Alberto da Veiga Guignard. Durante sua formação, foi aluna de renomados artistas como Herculano Campos, Yara Tupinambá, Maria Helena Andrés, Sara Ávila, Nello Nuno, Wilde Lacerda, Lizete Meimberg, Solange Botelho, Ildeu Moreira, entre outros. Aprofundou seus estudos frequentando a Escola de Artes do Brasil de Augusto Rodrigues no Rio de Janeiro e o ateliê de Selma Weissmann, sua contemporânea e colega de graduação. Participou de diversos salões de artes e exposições, tendo como principal influência o movimento impressionista e moderno, admirando especialmente pintores como Monet, Manet, Cézanne e Gaugin. O segredo de sua arte está na sensibilidade e na descoberta de si mesma, embasado na paixão que tem pela natureza, na celebração do momento e na magia do lugar, onde suas preferências recaem sobre cores explosivas e perturbadoras.
Exposição de Arte "Miragem Botânica" de Myrthes Figueiredo
Curadoria: Celina Lage
Montagem: Geraldo Peixoto
Período: de 04 de novembro a 28 de dezembro de 2024.
De segunda a sexta-feira, das 6h às 22h; sábados, das 6h às 20h; e domingos e feriados, das 6h às 19h.
Local: Galeria de Arte do Minas II. Av. dos Bandeirantes, 2323 - Mangabeiras, Belo Horizonte - MG, 30210-420.
Entrada franca.
Beleza incrível !
ResponderExcluirQue perfeição esse texto.
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